CRISTIANE SEGATTO
Repórter especial, faz parte da equipe de ÉPOCA desde o lançamento da revista, em 1998. Escreve sobre medicina há 14 anos e ganhou mais de 10 prêmios nacionais de jornalismo
cristianes@edglobo.com.br
Repórter especial, faz parte da equipe de ÉPOCA desde o lançamento da revista, em 1998. Escreve sobre medicina há 14 anos e ganhou mais de 10 prêmios nacionais de jornalismo
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Nunca achei graça no ator canadense Jim Carrey. Não gosto das caretas que ele faz nem da maioria dos filmes em que ele atua. Talvez a exceção seja Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças – esse sim um bom filme. Na maior parte de sua carreira, Jim Carrey bancou o palhaço. Mas quando o assunto é vacina, ele é de chorar.
Jim Carrey faz parte de um movimento que combate a vacina tríplice – aquela que reduziu drasticamente o sofrimento humano e as mortes provocadas pelo sarampo, pela rubéola e pela caxumba. Carrey acredita que a vacina tríplice causa autismo. Entrou nessa onda por influência da ex-namorada, a atriz Jenny McCarthy. (Sim, ex-namorada. Depois de cinco anos de relacionamento ele anunciou pelo Twitter, em março, que o namoro acabou amigavelmente).
Voltando ao que interessa: Jenny tem um filho (Evan, de 8 anos) que recebeu o diagnóstico de autismo. Esse distúrbio do desenvolvimento humano vem sendo estudado há mais de seis décadas. Há várias divergências entre os próprios cientistas sobre as causas do problema. Esse ambiente de incerteza explica por que tantos pais e mães (como Jenny) se apegaram à crença de que o autismo é provocado pela vacina tríplice. As famílias e os autistas merecem todo o nosso respeito e a nossa solidariedade. Posso imaginar o que é buscar respostas concretas para as tantas dúvidas que enfrentam e não encontrá-las.
Lamento, no entanto, que tanta gente (como Jim Carrey) tenha acreditado na conversa do gastroenterologista britânico Andrew Wakefield. Em 1998, ele ficou famoso ao afirmar que a vacina tríplice podia causar autismo. O estudo que pretendia estabelecer a relação entre as duas coisas foi publicado na prestigiosa revista científica The Lancet. Apesar de ter sido contestado pelos mais respeitados especialistas, o trabalho ganhou uma enorme repercussão na mídia.
De uma hora para outra, Wakefield se tornou onipresente. Estava em todos os programas de TV, nos mais importantes jornais, nas revistas. Os jornalistas perguntaram ao então primeiro-ministro Tony Blair se ele havia vacinado o filho Leo. Ele se negou a divulgar qualquer informação sobre a vida pessoal do garoto – o que é perfeitamente compreensível. Mas a recusa de Blair em responder foi interpretada como uma evidência de que o garoto não havia sido vacinado.
Saiba maisA histeria derrubou a cobertura vacinal na Inglaterra e levou ao aumento dos casos de sarampo e caxumba. Em 2006, um garoto de 13 anos morreu de sarampo. Foi a primeira vítima no país desde 1992. Milhões de pais na Inglaterra, nos Estados Unidos e em outros países deixaram de vacinar seus filhos.
Nesta semana, surgiu uma novidade nessa história. O registro profissional de Wakefield foi cassado na Inglaterra. Ele não pode mais ser considerado um médico. A razão da cassação não foi o estudo em si, mas as graves infrações éticas que ele cometeu durante a pesquisa.
Vamos por partes: o estudo de Wakefield sempre foi considerado inconsistente. Tornou-se exemplo de má ciência. Logo que foi divulgado, os especialistas argumentavam que a amostra era pequena (apenas doze crianças) e que não era possível estabelecer uma relação de causa e efeito como ela tentava fazer.
A alegação de Wakefield era das mais arriscadas. Dizia ter diagnosticado uma inflamação no intestino das crianças que haviam tomado a vacina tríplice alguns dias antes. Nove das doze crianças participantes do estudo também tinham autismo. Segundo ele, os sintomas haviam aparecido entre um e 14 dias depois da vacinação. Wakefield concluiu, então, que a vacina havia danificado os intestinos. Sua hipótese: a imunização contra o sarampo causaria uma séria inflamação intestinal. Essa inflamação faria com que proteínas prejudiciais circulassem pela corrente sanguínea e chegassem ao cérebro. Lá, elas danificariam os neurônios e levariam ao aparecimento do autismo. A ligação não lhe parece frágil?
“Publicar no The Lancet é o sonho de todo pesquisador da área médica”, diz o pediatra Gabriel Oselka, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. “Nunca entendemos como o The Lancet foi capaz de publicar um artigo tão fraco.”
Vários estudos foram realizados nos anos seguintes com milhares de crianças. “Está comprovado que não existe qualquer relação entre a vacina tríplice e o autismo”, diz Oselka. Confira aqui alguns dos estudos que refutaram essa relação e foram reunidos pelos Centros de Controle de Doenças e Prevenção (CDC), dos Estados Unidos.
Em fevereiro, os editores do The Lancet se retrataram. O artigo foi extraído das bases de consulta da publicação. É uma tentativa de apagar um passado vergonhoso, mas ela não vai redimir o enorme estrago já feito.
O médico não perdeu o registro profissional apenas porque publicou um artigo ruim. Se essa fosse a regra, faltariam médicos no mundo. Wakefield se complicou por outras razões. Num documento de 143 páginas, o General Medical Council (entidade equivalente ao CFM, no Brasil) considerou-o culpado de trinta acusações. Entre elas, “desprezar o sofrimento das crianças submetidas ao experimento”.
As crianças com sinais de autismo foram submetidas a punções lombares e a colonoscopias que não iriam lhes trazer qualquer benefício. Segundo o conselho, Wakefield coletou amostras de sangue de crianças na festa de aniversário do próprio filho. Teria pago 5 libras a cada uma.
Ele também mentiu aos editores do The Lancet sobre seus conflitos de interesse. Wakefield prestava assessoria a advogados de famílias autistas interessadas em processar os fabricantes da vacina tríplice. Não contou também que havia registrado a patente daquilo que imaginava ser uma nova vacina contra o sarampo. Uma das crianças, por sinal, recebeu doses dessa substância sem que o pediatra dela fosse avisado. “Wakefield desonrou a medicina. O comportamento dele revela vários exemplos de má prática profissional”, disse Surendra Kumar, presidente do General Medical Council.
Wakefield mora nos Estados Unidos. Trabalhava numa clínica de medicina alternativa em Austin, no Texas, mas se desligou em fevereiro. Não se sabe onde trabalha atualmente. Na segunda-feira 24, estava em Nova York e deu uma entrevista ao programa Today, da rede de TV NBC. Disse que a cassação de seu registro foi “um pequeno acidente de percurso”. Afirmou que vai continuar sua pesquisa para tentar comprovar a relação entre a vacina e o autismo.
Sempre existiram pessoas que optam por não vacinar seus filhos. Elas acreditam que o sistema imune pode ficar comprometido ou que as vacinas podem causar doenças. A mensagem de Wakefield, no entanto, não ficou restrita a esse público tradicionalmente avesso à vacinação. Atingiu muito mais gente, graças à enorme atenção que recebeu da mídia e à divulgação feita por celebridades.
Em fevereiro, lá estavam Carrey e Jenny defendendo Wakefield. “Ele está sendo vítima de uma campanha orquestrada para impedir o avanço de suas pesquisas”, escreveram num manifesto. Wakefield está tentando construir uma carreira de mártir e pode ter muito sucesso nisso. É possível que em breve lance algum livro na linha “a verdade por trás das descobertas sobre autismo e vacinas”. Apelar para o emocional, para a teoria da conspiração é um truque que pode funcionar em casos desse tipo.
A crença de que a vacina tríplice provoca autismo virou uma lenda urbana. É como a história da loira do banheiro, que apavorou a vida escolar da geração que hoje tem 40 anos. Ou como os emails catastróficos que condenam a vacinação contra o vírus H1N1, causador da gripe suína. Depois dessas ondas de grande impacto emocional, restabelecer a racionalidade leva tempo. Mais cedo ou mais tarde, porém, a verdade aparece.
Toda vacina (assim como todo remédio) pode provocar efeitos adversos. A questão é avaliar se o benefício compensa os riscos. “No caso da vacina tríplice, efeitos adversos ocorrem em uma pessoa a cada cerca de 300 mil”, diz Juvencio Furtado, professor de infectologia da Faculdade de Medicina do ABC. A gravidade dos efeitos varia muito. Vai de uma febre até a morte (que ocorre em raros casos). “Em trinta anos de profissão nunca tive um paciente que morreu por causa de uma vacina”, diz Furtado.
Poucos brasileiros deixaram de vacinar seus filhos por medo de que a imunização provocasse autismo. Em 2000, foram registrados os últimos 17 casos de sarampo no Brasil. A rubéola foi registrada pela última vez em 2008, quando houve 2.201 casos. A caxumba não é uma doença de notificação compulsória, portanto, não se sabe quantas pessoas foram atingidas nos últimos anos. Segundo os especialistas, os casos de caxumba também estão diminuindo. Tudo isso é resultado da ampla adesão dos brasileiros à vacinação. Em 2009, a vacina tríplice foi recebida por 99,7% das crianças com menos de um ano. É um problema a menos para o Brasil.
Para a maioria dos brasileiros, Jim Carrey é só um palhaço.
Te felicicto por la decision de trabajar con chicos que tienen autismo soy abuela paterna de Jazmin ella tiene autismo y te puedo decir que son los chicos mas tiernos, carinosos y ....todo lo que te puedas imaginar solamente que ellos o algunos demuestrtan de diferentes formas, gracias en nombre de los ninos autistas, muchos besos
ResponderExcluirMuito obrigada Maria!!! Eu é que tenho que agradecer! Receber comentáriosme motiva a seguir caminhando!
ResponderExcluirNossos chicos são lindos e lindas. Príncipes e Princesas. Nos motivam a viver.
Amo meu trabalho e nunca me canso.
Parabéns por ser uma vó tão dedicada.
Jazmin te muita sorte!!!
Um grande abraço!