Mensagens anônimas que circulam na internet assustam e põem em dúvida a população
Mariana Ortiga | mariana.ortiga@diario.com.br Foto: Nereu de Almeida
Quando o vírus da gripe A surgiu no ano passado, muitos boatos apareceram junto com ele. Agora, os rumores chegam por e-mail e dizem respeito à vacinação, por enquanto aplicada em profissionais da saúde e indígenas.
Uma mensagem anônima que circula na internet desde a semana passada assusta e põe em dúvida a população, mas especialistas garantem que a vacina é segura. A mensagem eletrônica afirma que o medicamento possui substâncias capazes de provocar de autismo entre crianças a problemas no sistema imunológico humano.
Além disso, o e-mail sugere uma armação entre autoridades de saúde e fabricantes da vacina para ter lucro com a aplicação, feita gratuitamente pelo governo em determinados grupos.
Irresponsabilidade
Cansada de mensagens do tipo, a vice-presidente nacional da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), Isabella Ballalai, classificou o alerta como "irresponsável". Ela disse que as vacinas já foram usadas nos Estados Unidos e na Europa com êxito. Segundo Isabella, não houve registro de mortes nem de efeitos colaterais graves até agora.
Especialistas na área acham que é natural as pessoas terem dúvidas diante do excesso de críticas ao medicamento recebidas pela rede mundial de computadores, mas ressaltam que não há perigo.
A médica Susana Dalcastagne, e as enfermeiras Priscila Tramontina e Renata Machado não pensaram duas vezes antes de receber a dose. Por falta de tempo não vacinaram-se no primeiro dia, mas no segundo. Elas garantem que não se sentem diferentes e que não tiveram nem reação no local da aplicação.
Indígenas não apresentaram efeitos colaterais
Na população indígena, das 9,3 mil pessoas que serão vacinadas no Estado, metade já havia tomado a dose na semana passada. Não há notificação referente a problemas em consequência da vacina, de acordo com a responsável pela imunização da Funasa, Janete Ambrósio.
A última avaliação realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em dezembro de 2009, registrou que os efeitos provocados pela vacina são reações leves, como dor local, febre baixa e dores musculares, que passam em torno de 48 horas.
— Penso que a polêmica começou em função do uso de substâncias na vacina como o timerosal, que é um derivado do mercúrio. Na França, desde o ano 2000, a Agência Francesa de Medicamento recomenda que ela não seja usada, mas há permissão da OMS por causa da pandemia. Tanto os governos quanto as indústrias se anteciparam para fazer a vacina contra um vírus que não é perigoso como se imaginava — comenta a doutora em microbiologia, Andréa de Lima Pimenta.
Especialistas tiram dúvidas
1. A vacina H1N1 contém mercúrio — a segunda substância mais perigosa do planeta depois do urânio. O veneno de uma cascavel é menos perigoso que o mercúrio. A substância em outras vacinas está ligada à epidemia de autismo entre crianças.
O que dizem os especialistas: há um derivado do mercúrio na vacina, o timerosal, usado para conservar o medicamento. Como a quantidade é pequena, não há registros de danos ao corpo. O Ministério da Saúde recomenda que pessoas alérgicas à substância consultem um médico. Pesquisas recentes não confirmam associação entre a substância e o autismo.
2. Ela contém esqualeno, uma substância que quando injetada no corpo pode fazer o sistema imunológico humano voltar-se contra si mesmo!
Especialistas: assim como o derivado de mercúrio, o esqualeno é um componente comum em vacinas. Segundo o Ministério da Saúde, ele é um complemento alimentar retirado do fígado do tubarão e não oferece risco para o sistema imunológico.
3. Ela contém células de câncer de animal que pode provocar câncer nas pessoas!
Especialistas: não há esse tipo de células na vacina. Usou-se células animais em vacinas que estão saindo do mercado, como a antirrábica, mas sem nenhuma relação com câncer.
4. O governo federal não está confiante quanto à segurança da vacina H1N1, é por isso que foi dada às indústrias farmacêuticas imunidade contra ações judiciais. Isto significa que se seu filho ou esposa ficar inválido ou morrer por causa da vacina H1N1, você não poderá processar a indústria farmacêutica que fez a vacina.
Especialistas: quando há dúvida sobre uma medicação, ela não é liberada. O Ministério da Saúde não assinou nenhum termo de imunidade judicial com empresas. Elas são responsáveis pelos produtos que fabricam.
5. A entrada no mercado da vacina foi acelerada, o que significa que todos os efeitos colaterais a médio e longo prazo não são conhecidos.
Especialistas: a entrada foi acelerada, mas isso não quer dizer que a vacina não seja segura. A medicação é semelhante à usada na prevenção da gripe comum. A principal diferença é que o vírus morto usado é o do H1N1.
6. Em 1976 o instituto médico afirmou que havia uma situação crítica relativa à gripe suína. As pessoas começaram a morrer ou ficaram inválidas após tomarem a vacina contra a gripe suína.
Especialistas: na ocasião, houve casos de gripe A entre recrutas americanos. Eles tomaram a vacina e, em alguns casos, houve complicações, interrompendo a campanha. O que se ressalta é que a vacina de hoje não é a mesma e não tem registros de problemas até agora.
7. As estatísticas e os fatos estão sendo manipulados para provocar pânico! O número de pessoas que supostamente estão com o H1N1 são somente estimativas, não números reais. Os testes usados para o H1N1 não são aprovados pela FDA (Agência de Drogas e Alimentos dos Estados Unidos), e esses testes não são confiáveis.
Especialistas: ao contrário, médicos e outros profissionais da saúde tentam amenizar o medo da população, ressaltando que a gripe A é apenas uma variação da gripe comum.
8. De acordo com as declarações dos Centros de Controle de Doenças, Agência de Drogas e Alimentos e da Organização Mundial da Saúde (OMS), o H1N1 é uma doença moderada da qual muitas pessoas se recuperam em uma semana sem medicação.
Especialistas: a maioria das pessoas que adoecem realmente se recuperam bem. A vacinação tenta impedir que os grupos considerados de risco, como as gestantes, tenham prejuízos à saúde, como ocorreu no inverno passado.
Fontes: Ministério da Saúde, infectologista Gustavo de Araújo Pinto e a doutora em microbiologia Andréa de Lima Pimenta.
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