segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Médicos precisam de maior treinamento para reconhecer sinais que podem atrasar o desenvolvimento infanti

Segundo pediatras, também é preciso prestar atenção ao que os pais dizem
Natalia Cuminale, de Salvador
Durante a consulta, o especialista precisa olhar a criança como um todo - não apenas em busca de sintomas de possíveis doenças
Durante a consulta, o especialista precisa olhar a criança como um todo - não apenas em busca de sintomas de possíveis doenças (ThinkStock)
As primeiras visitas a um consultório pediátrico giram em torno de questões básicas: amamentação correta, ganho de peso do bebê no tempo certo ou a presença de alguma doença. Muitos pediatras, porém, deixam de prestar atenção a outros aspectos importantes no desenvolvimento infantil. Nesse período, sintomas menos óbvios podem esconder problemas que trazem reflexos para a vida adulta. Estima-se que 16% da população infantil têm algum problema de desenvolvimento ou de comportamento — desde dificuldades motoras e de linguagem a problemas como autismo e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).
Questões sobre o desenvolvimento normal da criança, envolvendo os aspectos sociais, emocionais e básicos, como linguagem e motricidade fina, devem estar na agenda de todos os pediatras brasileiros. Quanto mais cedo o problema for identificado, melhor será a resposta da criança para o tratamento. Sabe-se que os estímulos que as crianças recebem entre o nascimento e os três anos de idade têm capacidade de alterar curso do desenvolvimento, com influências na parte física, cognitiva e também na psicossocial. Ou seja, crianças nessa idade apresentam taxas de sucesso muito maiores do que as que foram diagnosticadas mais tarde. "Isso não significa que a criança vai deixar de ser autista, por exemplo, mas ela vai conseguir ter uma convivência melhor, um aprendizado melhor", diz Amira Figueiras, da Universidade Federal do Pará.
"Se a criança não fala até os 16 meses, por exemplo, é um sinal de alerta", diz Ricardo Halpern, presidente do departamento científico de desenvolvimento e comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Segundo ele, se até completar o primeiro aniversário, a criança não emitir gestos ou não balbuciar nenhuma palavra, é preciso investigar. "Não existe mais aquele pensamento de que 'cada criança tem seu tempo'", diz.  Confira outros sintomas na lista abaixo:

5 sinais para prestar atenção

Eles podem indicar um problema de desenvolvimento. Caso seu filho apresente um desses sintomas, é hora de procurar um pediatra

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Fala

O atraso da linguagem deve ser observado pelos pais. Se a criança não falar até os 16 meses, é preciso investigar.

"O diagnóstico precoce está na mão do pediatra. O problema é que passa incólume por eles", afirma Amira. Em geral, médicos que atendem o serviço público têm apenas 15 minutos por paciente — e muitas vezes o problema não é notado. Amira, que também é presidente da Sociedade de Pediatria do Pará, é responsável pela criação de um projeto de capacitação de médicos e enfermeiros de alguns estados do Brasil e de países da América Latina para perceber o atraso do desenvolvimento infantil. "Depois do treinamento, vimos que estávamos recebendo mais crianças e muito mais cedo", diz.
Ricardo Halpern concorda que os esforços devem ser direcionados para o treinamento médico. "É preciso treinar os médicos para que eles percebam estes sinais", diz. A ideia, segundo Halpern, é que a partir do próximo ano sejam realizados cursos de capacitação profissional em cada região do país.
Atenção aos pais — Halpern explica que vários fatores podem contribuir para problemas do desenvolvimento que, em geral, são uma combinação da genética com fatores ambientais. Doenças como autismo e esquizofrenia, por exemplo, são essencialmente genéticas. Outros elementos, porém, podem contribuir para comprometer o desenvolvimento infantil. Entre eles, estão crianças filhas de mães que tiveram depressão pós-parto ou que não tiveram uma orientação adequada para a amamentação, com histórico de alcoolismo na família, que vivem em um ambiente desfavorável, vítimas de maus tratos.
Segundo o pediatra, é preciso voltar a atenção para o que os pais dizem durante a consulta. Ele diz que em cada dez diagnósticos, os pais acertam em oito. "Os pais têm uma percepção muito adequada quando seu filho não está bem. Ele pode não saber o que é, mas sabe que ele não está bem", diz.

Olhar

Quando a criança evita o contato visual direto, não desenvolve empatia e não compartilha interesses.

Agressividade

Até certo ponto, a agressividade pode ser normal. Mas é preciso observar se o comportamento agressivo é frequente e em que situações ele ocorre.

Aprendizado

Quando a criança é hiperativa, tem dificuldade de parar quieta e de aprender.

Solidão

Se o seu filho é solitário e não interage com outras crianças, apresenta características melancólicas e atitudes anti-sociais, pode haver um distúrbio oculto.

domingo, 16 de outubro de 2011

Na Etiópia, autistas sofrem por desconhecimento da condição e superstição

Mãe etíope luta para educar filho autista e conscientizar população de que condição não é resultado de 'possessão demoníaca'


Segundo as informações que encontrei, Jojo tem agora 20 anos.
Amanda Bueno.

Em 1995, a etíope Zemi Yunus não sabia o que era autismo, mas tinha consciência de que seu filho Jojo, então com quatro anos, era "diferente das outras crianças da idade dele".
Foi então que seu marido assistiu a um programa de televisão sobre a condição. Na época, a família vivia nos Estados Unidos.
De repente, o casal se deu conta de que era possível que Jojo fosse autista. Certamente, os sintomas descritos pareciam indicar isso.
Pouco tempo antes de retornar à Etiópia, Zemi começou a pesquisar o assunto com mais profundidade.
Zemi disse que, assim como muitos pais de crianças autistas, ela se preocupava com a demora do filho em começar a falar.
'Mimado'
Vários médicos haviam dito a ela que não se preocupasse porque, frequentemente, meninos começam a falar um pouco mais tarde.
No entanto, quanto mais pesquisava, mais Zemi reconhecia que o atraso na fala do filho, assim como suas ações repetitivas e dificuldades de comportamento eram claramente manifestações de autismo.
Infelizmente, o diagnóstico da condição, particularmente em países em desenvolvimento, é raro.
Ao retornar à capital da Etiópia, Addis Abeba, Zemi consultou psicólogos, médicos e outros profissionais durante vários anos. Nunca obteve uma confirmação de suas suspeitas.
Dona de seu próprio negócio, a mãe de Jojo teve dificuldade em encontrar uma escola para o filho. Muitos professores diziam que Jojo era "mimado". Ele foi expulso de cinco escolas consecutivamente.
Uma instituição pediu pagamento triplo para aceitar Jojo.
Problema Comum
A essa altura, Zemi já tinha pesquisado amplamente o tema e sabia que a ocorrência de autismo na região era bastante alta.
Na Etiópia, ninguém falava publicamente sobre o assunto, mas ela insistiu. Começou a procurar por outros pais afetados pelo problema.
Zemi ficou chocada com o que encontrou. Famílias com crianças autistas as mantinham em casa, com frequência em quartos escuros.
Ela encontrou o caso de uma menina cujas mãos ficavam amarradas atrás das costas, provavelmente para impedir que ela agredisse a si própria. (Esse não é um comportamento raro entre crianças autistas, especialmente quando estão estressadas.)
Suas experiências a levaram a querer falar publicamente sobre o autismo.
Em 2002, usando seu bem-sucedido negócio para promover suas atividades beneficentes, Zemi inaugurou o Joy Centre for Children with Autism em Addis Abeba.
A escola começou a funcionar com quatro alunos - entre eles, seu filho - e três funcionários. Hoje, 75 crianças estão matriculadas na escola e a equipe conta com mais de 30 funcionários.
Como a escola não tem fins lucrativos, os pais pagam o que podem. A instituição recebe auxílio da ONU e de outros doadores.
A criação do centro levou o governo da Etiópia a iniciar um programa para crianças com necessidades especiais.
'Possuídos pelo demônio'
Isso não quer dizer que os etíopes mudaram sua atitude em relação aos que sofrem de autismo.
Muitas pessoas ainda pensam que as crianças afetadas pela condição são possuídas pelo demônio em virtude de pecados cometidos por seus pais. Isso explica por que, frequentemente, crianças autistas são escondidas pelas famílias.
Também há muita ignorância sobre o assunto no setor médico.
Elias Tegene, um psicólogo que se especializa em autismo, descreve a condição como um novo "tema" que só se tornou conhecido na última década.
Apesar da falta de dados oficiais no país, ele acredita que a incidência da condição está crescendo rapidamente.
O problema é acentuado pelo fato de que muitos médicos na Etiópia nunca ouviram falar da condição.
Os que identificam a condição tratam os pacientes como casos psiquiátricos (embora o problema seja, na verdade, neurológico) ou simplesmente dizem aos pais que precisam educar melhor seus filhos.
Com base em suas observações, Tegene disse acreditar que o autismo é mais comum em crianças da chamada "geração boom", ou seja, etíopes que viajaram para o exterior para trabalhar e estudar.
O menino de nove anos Addis é uma dessas crianças. Ele nasceu em Maryland, nos Estados Unidos, de pais etíopes. Seu diagnóstico foi feito quando ele tinha apenas dois anos.
O diagnóstico rápido se deveu ao fato de que Addis nasceu prematuro, com 27 semanas, e já estava sendo monitorado por uma equipe médica.
Vida Ativa
O pai de Addis, Abiy, disse que demorou para que ele e a esposa aceitassem o diagnóstico inicial.
"Todo mundo tinha uma teoria sobre por que isso tinha acontecido", disse Abiy.
Segundo ele, há uma percepção de que o autismo é mais comum entre comunidades de migrantes vindos do Chifre da África - na região nordeste do continente.
"Alguém nos disse que as crianças que tinham sido diagnosticadas em casa (na Etiópia) eram aquelas que tinham nascido no exterior , nos Estados Unidos ou na Europa".
Foi a esposa de Abiy, Azeb - uma professora primária hoje se especializando em crianças com necessidades especiais - quem primeiro sugeriu que talvez Addis fosse autista.O marido, no entanto, resistiu à ideia de procurar tratamento por não querer aceitar a realidade. O diagnóstico resultou em um período de muita reflexão para Abiy.Hoje, Addis vive uma vida ativa, cheia de atividades. Ele tem um senso de direção particularmente desenvolvido.
"Meu filho é uma criança ótima. Se nasceu com autismo, que seja. Mas ele é o melhor filho (do mundo)", diz Abiy.
"Ele se comporta bem e nunca nos atrapalhou de maneira alguma".
Embora não haja pesquisas para confirmar a visão do psicólogo Elias, de que o autismo está aumentando entre os etíopes, e especialmente entre os que vivem no exterior, há evidências em relação a crianças da Somália vivendo no exterior.
Em 2009, o jornal New York Times publicou uma reportagem dizendo que autoridades do Departamento de Saúde de Minnesota, nos Estados Unidos, tinham chegado a um acordo em relação a um fato impressionante: havia índices mais altos de autismo em crianças somális vivendo no Estado.
Embora enfatizando que a amostra era bastante pequena, as autoridades citadas no artigo disseram que as crianças somális tinham entre duas a sete vezes mais probabilidade de sofrer da condição do que pessoas de outras etnias.
Dados da Suécia e de outros pontos dos Estados Unidos parecem reforçar essa teoria.
Pesquisas
Abdirahman D. Mohammed - um médico somáli que trabalha no Axis Medical Centre, em Minneapolis - trata um grande número de pacientes de várias origens e disse não ter dúvidas de que o autismo ocorre em índices anormalmente altos em crianças de origem somali.
"Infelizmente, é um problema imenso para a nossa comunidade. Pode causar muita perturbação e ansiedade para as famílias", disse o médico.
Além disso, algumas pessoas associam o autismo a programas de imunização infantil - embora esse vínculo nunca tenha sido provado.
Como resultado, algumas crianças somális nos Estados Unidos não estão sendo vacinadas contra doenças perigosas.
E se de fato existe uma maior concentração de casos de autismo entre crianças da comunidade somali, qual seria a explicação para isso? Mohammed não sabe a resposta.
"Será que isso é ambiental, genético, ambos? Não sabemos. É um grande mistério".
Felizmente, o US Centre for Disease Control and Prevention acaba de aprovar financiamento para pesquisas sobre o assunto. Talvez sejam necessários mais estudos na Etiópia e entre comunidades de etíopes vivendo no exterior.
E de volta a Addis Abeba, os anos se passaram e hoje o filho de Zemi, Jojo, é um jovem de 20 anos.
A mãe o descreve como "um jovem bonito, com muitas vitórias". Recentemente, ele começou a dizer algumas palavras.
"Ele está prestes a falar. Estou tão animada com isso! As coisas estão caminhando".
Histórias como as de Jojo e Addis enchem de esperança as famílias afetadas pelo autismo. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC. 

sábado, 1 de outubro de 2011

Testes de Q.I. não são eficientes na hora de analisar habilidades da pessoa

PARA PENSAR!!!


Especialista explica que atualmente a teoria mais aceita é a das múltiplas inteligências, que tenta analisar as habilidades das pessoas.


Elas são mais inteligentes, mas sofrem preconceito desde pequeno na escola. Em vez de se beneficiar com a capacidade maior, são discriminadas. São pessoas com Q.I. acima da média.
E você sabe exatamente o que é o quociente de inteligência? E como fazer pra que o Q.I. ajude e não atrapalhe a vida de quem tem mais ou menos?
No piano, ela toca Bach, Beethoven, e músicas que ela mesma compõe. Antonia Murad também cria robôs. Escreve textos em português e inglês. Faz origamis.
Ela aprendeu a falar aos nove meses e hoje, aos doze anos, se expressa assim. E ela também canta.
Sua voz, seus movimentos e sua segurança lhe garantiram um bom papel no musical "a noviça rebelde".
Ela é um exemplo típico de pessoas que estão entre os 1% mais inteligentes. Tem um alto Q.I.
Mas o que é isso?
“QI é uma abreviação de quociente de inteligência, uma divisão entre o que determina o que seja a idade mental do individuo e a idade mental média das pessoas da mesma faixa etária”, explica o Mauricio Peixoto.
Testes de inteligência existem desde o século V, na China. Os testes atuais, vão do número 20 que classifica a debilidade profunda, até o máximo, 127, que indica superdotados como Antônia.
A ideia do Q.I. era identificar pessoas inteligentes e essas pessoas inteligentes seriam beneficiadas, Mais do que isso organizaríamos estrutura social, biológica, de modo a favorecer os inteligentes e reduzir os não inteligentes.
Um perigo: com esse argumento os nazistas eliminaram milhões de pessoas. Semana passada a americana Teresa Lewis, condenada à morte pelo assassinato do marido e do enteado, foi executada, apesar de ter um Q.I. baixo que, pela lei americana, teoricamente salvaria a vida dela.
E ficou provado que o coeficiente de inteligência não tem nada a ver com sucesso profissional. Fotógrafos por exemplo precisam de sensibilidade, senso de oportunidade e percepção da luz.
Por isso, especialistas adotam a teoria das múltiplas inteligências. Pela nova teoria, a inteligência pode ser dividida em sete áreas, que vão desde a habilidade de falar em público, até tocar um instrumento ou ter o domínio do próprio corpo, como fazem grandes atletas, como Pelé.
Antonia sofreu por ser mais inteligente do que as colegas da mesma idade. Queria ensiná-las, corrigia o que faziam ou diziam errado, acabou discriminada e isolada. Aprendeu: hoje se cala - e tem uma boa convivência com todos.
Ser capaz de reconhecer que as pessoas são diferentes, para que elas possam se desenvolver no seu melhor potencial - isso precisa ser respeitado e, nesse sentido tratar igualmente todas as pessoas é em grande parte respeitar seus estilos diferentes e tratá-los de forma diferente pra que todos possam atingir seu melhor potencial.

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