Pesquisa mostra a influência dos alimentos no comportamento autista.
A triagem dos autistas também foi feita no Núcleo de Especialização e Socialização do Autista (NESA) de Mogi-Guaçú. Segundo a orientadora da pesquisa, Jocelem Mastrodi Salgado, 28 autistas participaram do projeto, com idade entre dois e 33 anos, sendo 17 de Limeira e 11 de Mogi-Guaçú. O projeto realizado pela nutricionista Nádia Isaac da Silva foi aprovado pelo comitê de ética de pesquisa com humanos da ESALQ. "O estudo teve como objetivo identificar o padrão de hábito alimentar de um grupo de autistas, promover testes para o desenvolvimento de métodos de análises laboratorais que comprovem a eficiência da dieta isenta de glúten e caseína e também identificar a ocorrência de alterações do metabolismo da creatina a partir da análise da concentração de creatinina em urina", explicou Jocelem.
CARACTERÍSTICAS
A pesquisa intitulada "Relação entre hábito alimentar e síndrome do espectro autista" foi elaborada após a realização de uma entrevista nutricional, contendo questões sobre características sóciodemográficas das famílias dos autistas participantes, histórico pessoal de doenças, comportamento autista durante as refeições e levantamento de hábito alimentar. Segundo a orientadora, também foi feita uma avaliação psicológica com aplicação do método quantitativo "Childhood Autism Rating Scale (CARS)".
Os resultados sobre a população indicaram que 1/3 dos pais de autistas possuem baixa escolaridade e 60% renda familiar na faixa de dois a quatro salários mínimos. Segundo a avaliação psicológica, 64% dos autistas são casos graves e 68% se encontram na faixa de retardo mental. "A renite alérgica é a patologia de maior prevalência na população estudada. Em média 60,71% dos autistas apresentam sintomas gástricos, sendo o mais frequente a flatulência (39,90%)", apontou.
ALIMENTAÇÃO
Ainda dentro do campo de pesquisa, foi constatado que o grupo de autistas apresentou um elevado consumo de calorias, proteína, carboidrato, vitaminas do complexo B, ferro, zinco e cobre. Do outro lado, os autistas têm baixo consumo de cálcio, fibra e ácido ascórbico (vitamina C). "A análise de consumo de grupos de alimentos evidenciou elevado consumo de açúcares simples e baixo consumo de leite e derivados como também frutas e hortaliças", falou.
Sobre as alterações do metabolismo da creatina, a pesquisa concluiu que essa condição pode estar relacionada a fatores genéticos.
APOIO
O projeto de pesquisa foi realizado no laboratório de Nutrição Humana do Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição em parceria com o laboratório de genética de plantas Max Feffer do Departamento de Genética (ESALQ). O projeto também contou com a participação dos profissionais do CEMA, a psicóloga Vera Lígia Alves Leite, fonoaudióloga Marcia Regina Cermaria da Silva e a psicóloga Karine Helena Rodrigues Carvalho do NESA para a avaliação psicológica. "O apoio e auxílio das equipes de profissionais e dirigentes das duas instituições participantes foram fundamentais para o desenvolvimento do projeto", declarou.
Esse trabalho teve início em 2008 e a sua conclusão está prevista para o segundo semestre deste ano.
Dados levantados na pesquisa:
* 1/3 dos pais de autistas possuem baixa escolaridade
* 60% tem renda familiar na faixa de 2 a 4 salários mínimos
* 64% dos autistas são casos graves e 68% se encontram na faixa de retardo mental
* Em média, 60,71% dos autistas apresentam sintomas gástricos
* Elevado consumo de calorias, proteína, carboidrato, vitaminas do complexo B, ferro, zinco e cobre
* Baixo consumo de cálcio, fibra e ácido ascórbico (vitamina C)
** Foram entrevistados 28 autistas, sendo 17 de Limeira e 11 de Mogi-Guaçú.
Derivados de trigo e leite podem intensificar os sintomas
A pesquisa feira pela nutricionista Nádia Isaac da Silva sob a orientação da professora Jocelem Mastrodi Salgado trabalha com a hipótese de que alimentos que contém glúten e caseína - proteínas derivadas do trigo e do leite respectivamente - podem intensificar os sintomas do autismo. "Estudos indicam que uma dieta isenta de alimentos que contenham essas proteínas (pães a base de trigo, bolachas, bolos, massas em geral, leite, queijos, iogurtes, sobremesas a base de leite) reduz alguns sintomas característicos da doença como isolamento social e déficit de atenção", explicou Jocelem.
Para a orientadora, com o conhecimento da patologia e também a criação de exames de diagnóstico seguros é possível contribuir para um diagnóstico precoce da doença. "Dessa forma haverá um maior acesso a tratamentos mais adequados que acarretem a melhora do quadro clínico e consequentemente, a qualidade de vida dos autistas", falou.
Para Jocelem, as pesquisas com finalidade de criar novos tratamentos coadjuvantes e exames de diagnóstico para o autismo são de grande importância para o Brasil em virtude do elevado número de casos de autistas que não tem acesso ao diagnóstico e nem tratamento adequado. "Não existe no país dado oficial sobre a prevalência do autismo. Informações apontam para a média de 50 mil autistas, mas estima-se que existe pelo menos um milhão sem diagnóstico." (Stefanie Archilli)
Aumenta número de diagnósticos precoce
O número de diagnósticos precoce está aumentando por dois motivos: maior conhecimento da patologia por parte dos profissionais de saúde e a constante mudança dos critérios de diagnóstico.
Segundo a Fundação Verônica Bird, para um diagnóstico precoce orienta-se aos pais e profissionais - pediatras e educadores - a observação do desenvolvimento da linguagem. "As crianças com atraso da linguagem devem ser observadas, pois, segundo essa instituição esse é um dos primeiros sintomas. Orientam-se os pais a observar o comportamento da criança como, por exemplo, se ela responde aos sons, arredia ao toque e se a criança mantém contato visual com a mãe durante a amamentação", declarou a professora da ESALQ, Jocelem Mastrodi Salgado.
Os primeiros estudos indicavam de quatro a cinco casos de autismo para cada 10 mil nascimentos. Pesquisas estimam um aumento, atingindo a média de 15 a 20 registros para cada 10 mil pessoas. Segundo Jocelem, não existe diferença na prevalência da classe social ou etnia. "O sexo masculino é mais afetado, sendo quatro homens para uma mulher autista", falou.
O autismo é classificado como transtorno invasivo do desenvolvimento e é caracterizado pelo início precoce na infância. Essa doença é marcada por permanente prejuízo da interação social, alteração da comunicação e padrões limitados ou esteriotipados de comportamento e interesses.
Segundo a professora, dificuldade com interação social pode se manifestar como isolamento ou comportamento social impróprio, pouco contato visual, dificuldade em participar de atividades em grupo, indiferença afetiva ou demonstrações inapropriadas de afeto. "Alguns autistas não desenvolvem a habilidade de comunicação. Outras têm uma linguagem imatura. Os que desenvolvem de forma adequada podem apresentar uma dificuldade em desenvolver e manter uma conversação", explicou.
Os padrões repetitivos e esteriotipados de comportamento característico do autismo incluem resistência a mudanças, insistência em determinadas rotinas, apego excessivo a objetos e fascínio com movimento de peças como rodas e hélices. "Podem apresentar esteriotipias tais como se balançar, bater palmas repetidamente, andar em círculos ou repetir determinadas palavras, frases ou canções." (Stefanie Archilli)
CEMA é referência no Estado em tratamento
Em Limeira foi instituído o dia de conscientização do autismo a ser comemorado no dia 2 de abril. O projeto de lei é de autoria da vereadora Nilce Segalla (PTB).
O município também conta com um centro de especialização em autismo, o CEMA, que oferece atendimento gratuito. Fundado em 1993, o centro de Limeira foi o segundo do Estado; o primeiro nasceu em São José do Rio Preto. Hoje, Americana também possui um espaço semelhante ao de Limeira e, em Pirassununga, foi construído o primeiro centro para autistas vinculado à APAE (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais).
Em Limeira são atendidas 25 pessoas no CEMA, com idade entre três e 34 anos. Muitos deles estão com a equipe desde o início do projeto.
O tratamento é baseado no método americano TEACCH (Tratamento e Educação para autistas e crianças com déficits relacionados à comunicação) e no trabalho dos pais. O autista sempre terá que ter o apoio da família.
O CEMA (Centro de Especialização Municipal do Autismo) fica na Rua Bartolomeu Bueno, 165. (Stefanie Archilli)
Artigo
Uma luta diária
Quando recebi a tarefa de buscar mais informações sobre o autismo em Limeira, não imaginei que teria a oportunidade de conhecer pessoas como Vanda Alexandrina Ferreira e Irene Carmo Cordeiro Polizeli, mães de autistas. As duas foram personagens de uma matéria publicada no Jornal de Limeira, no dia 10 de abril.
O trabalho do CEMA (Centro de Especialização Municipal do Autismo) é muito importante para a vida de crianças, jovens e adultos autistas, mas a dedicação das mães dessas pessoas é algo imensurável.
A Vanda foi deixada pelo marido - depois que foi descoberto o transtorno do filho - e cria sozinha Paulo Henrique, 12 anos. Ela faz jóias em casa porque não pode deixar o filho sozinho e também não conta com muito apoio de familiares.
Mas nada disso a desanima. Pelo contrário. Para ajudar o filho, ela é capaz de muito mais. Lê sobre autismo, assiste a filmes, pesquisa na internet. Em casa, ela mesma desenvolve atividade com o filho, porque ele passa apenas uma hora e meia no CEMA.
Se Paulo Henrique não tivesse todo esse aparato da mãe, talvez não teria desenvolvido algumas habilidades. Ele faz caminhadas, joga bola, passeia com a mãe e consegue fazer suas necessidades fisiológicas.
Cleber Polizeli, 27 anos, também conta com toda a dedicação e o amor de sua mãe, Irene. Mãe de mais dois filhos e viúva, ela consegue dar um novo sentido à vida de seu filho autista.
Irene também briga pelos direitos dos autistas de Limeira. Ela quer que eles tenham uma piscina e mais espaço no CEMA. Existem estudos que comprovam a eficácia de tratamentos na água com autistas.
Limeira já tem um centro de apoio aos autistas, mas o atendimento gratuito a eles não pode parar por aí. A administração pública precisa olhar com mais atenção para essas crianças, jovens e adultos, que dependem do apoio de sua família e do poder público.
A luta diária dessas mãe por seus filhos autistas deve chamar a atenção daqueles que podem fazer algo por eles.