matéria de Francisco Gomes
imagem de ED Gomes
O projeto Cavalo Solidário, criado em 2007, está mudando a vida de 52 crianças com problemas como paralisia cerebral, autismo, síndrome de Down, hiperatividade e déficit de atenção. O trabalho é realizado por meio da equoterapia, método terapêutico e educacional, reconhecido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), que utiliza o cavalo como meio de melhorar a saúde física e mental, além de proporcionar ganhos educacionais e sociais para os alunos.
De acordo com a coordenadora do projeto, pedagoga e especialista em educação especial, Rosely Ferreira, o trabalho equoterapêutico tem mostrado eficácia no tratamento de crianças com paralisia cerebral no ganho das funções motoras. Ela acrescenta que o resultado já aparece no primeiro atendimento, quando o paciente inicia a interação com o animal, devido ao movimento tridimensional produzido pela marcha do cavalo, que estimula o tônus muscular e a dissociação da cintura pélvica e escapular.
Ferreira destaca que a equoterapia é desenvolvida ao ar livre, onde o indivíduo está intimamente ligado com a natureza, proporcionando assim a execução de exercícios psicomotores, de recuperação e integração, completando as terapias tradicionais em clínicas e consultórios. Um dos locais onde é desenvolvido o projeto é no Instituto Cavalo Solidário, que fica no Rancho Alterosa, a 6 km do Setor O, de Ceilândia. O espaço conta com uma área total de 32 hectares, totalmente plana, com nascentes de água e vegetação nativa. O Instituto possui estrutura para abrigar 84 cavalos e conta 12 baias, exclusivamente para os reservados para a equoterapia.
A pedagoga relata que a iniciativa conta com a colaboração de profissionais da Secretaria de Educação do Governo do Distrito Federal e funciona como complemento ao ensino de crianças das Escolas Ensino Especial 02, Classe 25 e Caic Anísio Teixeira, todas em Ceilândia. A terapia é realizada por seis professores, que contam com a ajuda de guias auxiliares.
Resultados
Ferreira enfatiza que o trabalho realizado no Instituto Cavalo Solidário tem apresentado bons resultados, tanto físicos como comportamentais. “A equoterapia propicia aos praticantes um trabalho de postura correta e equilíbrio do tronco. Nós tínhamos casos de crianças que quando chegaram aqui não conseguiam andar. Depois de algum tempo fazendo a terapia elas voltaram a andar com mais equilíbrio”, comemora a pedagoga. Outro ganho importante, segundo ela, diz respeito ao comportamento das crianças na escola. “Elas conseguiram aumentar o grau de compreensão e melhoram o nível de socialização”, revela a coordenadora.
Segundo Ferreira, um dos alunos atendidos no instituto teve um processo de reabilitação tão elevado que até participou de campeonato e alcançou a segunda colocação. A coordenadora diz que as crianças são acompanhadas durante dois anos. Caso ainda precisem da equoteparia, esse prazo pode ser prorrogado por até um ano, dependendo da situação do aluno. Ela informa também que a única ajuda institucional recebida é a cessão de professores da Secretaria de Educação. As demais despesas são mantidas por doações de voluntários, que são solicitadas por meio de telemarketing.
Umas das crianças atendidas é Evelyn Christina Carvalho da Silva, 9 anos, vítima de uma doença conhecida como Síndrome de Rett. A mãe dela, Érika Carvalho do Nascimento Silva, conta que, de todas as terapias feitas pela filha, a equoterapia foi a que mais apresentou resultados positivos e imediatos. “Se não fosse esse trabalho que está sendo feito aqui, a minha filha não estaria andando tão bem. Estou muito satisfeita, apesar de que os médicos do hospital Sarah, que a acompanham, não recomendem esse tipo de tratamento. Eles não acreditam, mas eu consigo perceber nitidamente a melhora dela a cada dia que passa”, diz a mãe da garota.
Voluntários
O equitador Marcos Villaça Freita é voluntário do Instituto Cavalo Solidário. Ele relata que o trabalho que realiza o faz sentir útil à sociedade por várias razões. “Eu sou o responsável direto pelo tratamento da ‘ferramenta’ essencial, que é o cavalo. Depois, o convívio com esses animais me dá prazer de viver e, por último, pratico atividade física. Essas três coisas me completam”, finaliza.
Quem também se sente realizado com o trabalho voluntariado é o estudante de fisioterapia, César Augusto de Castro Duarte, que auxilia os professores como mediador no instituto. “Eu sempre gostei de animais. Aproveitei a afinidade que tenho com os cavalos para poder ajudar a quem precisa de apoio. É uma atividade que me realiza muito”, completa.
No Brasil, a equoterapia passou a ganhar espaço a partir dos anos 70 com a criação da Associação Nacional de Equoterapia (Ande-Brasil). Por meio da entidade, desenvolveram-se vários centros que trabalham com essa terapia em diversos estados brasileiros. O método foi reconhecido como terapêutico em 1997, pela Sociedade Brasileira de Medicina Física e Reabilitacional e pelo CFM. Na Região Nordeste, a Equoterapia vem ganhando espaço, assim como o resto do país. Ceará, Bahia, Pernambuco e Piauí já contam com centros de referência.
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