terça-feira, 25 de maio de 2010

EPIDEMIA DE AUTISMO? UMA OPINIÃO


postagem retirada do execelente blog: Autismo e a Casa da Esperança
texto escrito por:

Há uma década, falava-se que em um para cada dez mil nascimentos, surgia um caso de autismo.
Este número cresceu dez vezes: Hoje se fala em um por cento da humanidade. Estamos produzindo autistas em massa?
A resposta mais concreta é não.
Com argumentos concisos e fundamentados historicamente, Roy Richard Grinker, antropólogo e pai de Isabel, uma menina com autismo, demonstra convincentemente que não há motivo para pânico, em seu livro "Unstrange Minds: Remapping the world of autism", traduzido para o Português com o infeliz título "Autismo - Um Mundo Obscuro e Conturbado".
Em 1952, quando foi lançado o DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), o autismo havia sido descrito há poucos anos. Algumas crianças que hoje seriam diagnosticadas com autismo, o seriam na época com "esquizofrenia infantil".
Em 1968, com o lançamento da segunda edição, nada mudou.
Apenas em 1980, com o lançamento do DSM III, essa lacuna foi preenchida. No entanto, nesta época, O autismo era mesmo "obscuro": a descrição continha apenas 06 critérios, e denominava-se "Autismo Infantil" (desprezando diagnósticos em adultos) e a criança teria que preencher todos os 06 para ser considerada autista.
O DSM-III-R (revisão da 3ª edição) mudou o nome do transtorno para "transtorno autista" em 1987, permitindo que adultos fossem também considerados autistas, por esse manual.

Apenas no DSM IV, em 1994, a categoria "Síndrome de Asperger" surgiu, não por acaso, três anos após a tradução, por Uta Frith, em seu livro "Autismo e Síndrome de Asperger" do artigo original do psiquiatra vienense, datado de 1944.

Esta edição diferencia a Síndrome de Asperger do Transtorno Autista por uma melhor performance verbal e cognitiva, e introduz o sistema atual, baseado em três conjuntos de características, totalizando 11 critérios ao todo, em que a pessoa basta preencher 02 condições do primeiro conjunto, 02 do segundo e 01 do terceiro para ser diagnosticada.

Neste ínterim, a mídia descobriu o autismo. Desde o longínqüo "Meu filho, meu mundo", passando pelo Blockbuster "RainMan" até thrillers de suspense psicológico como "Testemunha do Silêncio" e mesmo filmes de ação com "Código da Morte" retratam o tema.

E as crianças que antes eram diagnosticadas como tendo retardo mental severo, transtorno de conduta, até esquizofrenia e Déficit de Atenção – na falta de uma definição melhor – estão sendo diagnosticadas com autismo.

Assim se fabricou vários mitos, dentre eles o da intoxicação pela vacina, apoiado em um único estudo, publicado pela revista britânica "The Lancet", que retratou-se perante a comunidade científica, por ter falhado em identificar a falta de rigor e de ética do estudo publicado, cujo autor, Andrew Wakefield, acaba de perder sua licença médica no Reino Unido.

Faço coro com Grinker, O autor de "Remapping Autism", que vê com muito bons olhos a tal "epidemia". Isso só significa que mais atenção está sendo dada ao tema.
Me preocupa, no entanto, que grupos que disseminam pânico e meias verdades sobre o tema estejam tendo acesso à esfera legislativa brasileira, propondo a dotação de recursos para "tratar" autismo utilizando modelos baseados na mesma matéria-prima da "histeria": O pavor de perderem seus filhos para o autismo.

Mais uma vez: não se perde uma criança para o autismo.
Perde-se todas as vezes que se quer ir tão longe na negação do que não compreende, que chega-se a arriscar a vida dos filhos para combater moinhos de vento.

O Senador Paulo Paim deveria ampliar seu círculo de consultores, pois, a julgar pelas notícias que recebo de seu projeto de lei, ele está sendo alimentado por grupos cujo propósito pode ser qualquer outro, menos a busca de enfrentamento sério dos problemas em torno do autismo. Pânico em torno de um transtorno pode também significar lucro para quem promete-lhe a cura.

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