sexta-feira, 16 de abril de 2010

AÇORES COM ELEVADO ÍNDICE DE AUTISTAS

Há mais crianças autistas nos Açores do que em Portugal Continental e menos no Norte do que nas regiões Centro e Lisboa.. 
A Associação Portuguesa para as Perturbações de Desenvolvimento e Autismo (APPDA) funciona actualmente nos Açores, nas ilhas de S. Miguel e Santa Maria. O Centro de Atendimento e Acompanhamento Psico-social da valência é financiado pelo Instituto de Acção Social de Ponta Delgada e pela Direcção Regional de Solidariedade e Segurança Social. A associação recebe também donativos, quotas dos associados e comparticipações pagas pelos pais dos utentes do centro. Carolina Benjamim Ferreira, psicóloga clínica do APPDA relata os constrangimentos da Associação. “Apesar de termos importantes fontes de financiamento, estas manifestam-se insuficientes para constituir uma equipa multidisciplinar que permita uma intervenção mais adequada e para concretizar projectos de outras valências com um maior leque de serviços e intervenções Há falta de recursos financeiros e humanos”.


Quanto ao número de autistas em Portugal, nomeadamente na região açoriana, Carolina Benjamim Ferreira informa: “segundo estudos norte-americanos existem em Portugal cerca de 65 mil autistas. Pela primeira vez, a nível nacional, realizou-se um estudo sobre o autismo, liderado pela investigadora Guiomar Oliveira entre 1999-2000 (que foi galardoado com o Prémio Pfizer para investigações clínicas) e que conclui que uma em cada mil crianças portuguesas sofre do espectro do autismo. Há mais crianças autistas nos Açores do que em Portugal Continental e menos no Norte do que nas regiões Centro e Lisboa. O mesmo estudo revelou que apenas um em cada três casos está correctamente diagnosticado.” Para os próximos anos, os objectivos da APPDA passam por reforçar a equipa existente e a médio prazo a construção de um Centro de Actividades Ocupacionais para os utentes acima dos 16 anos de idade que já não frequentam o ensino obrigatório e não consigam integrar-se no mercado de trabalho.


Existem vários tipos de terapias aplicadas nas perturbações do espectro autista, de realçar as terapias comportamentais e de fala. A terapia de gestão comportamental visa reforçar os comportamentos desejados e reduzir os indesejados, indicando aos cuidadores o que fazer antes e entre os comportamentos problema. Os terapeutas de fala podem ajustar as pessoas com autismo a melhorar a sua capacidade geral de comunicação e a eficácia das suas interacções com os outros. O objectivo é desenvolver a fala, as competências linguísticas e até formas não verbais de comunicação, melhorando as palavras, as frases, a taxa e o ritmo da fala e conversação. Outros profissionais como os terapeutas ocupacionais podem ajudar as pessoas com autismo a encontrar tarefas e condições que correspondam às suas capacidades e necessidades individuais e os fisioterapeutas podem construir actividades e exercícios para fortalecer o controlo motor e a melhorar a postura e o equilíbrio, nomeadamente favorecendo o contacto corporal. Podem existir também opções educativas e baseadas na escola “Educar os autistas inclui uma combinação de intervenções um a um, em pequenos grupos e com integração em turmas regulares. A escola deverá possuir uma equipa de pessoas, que inclua especialistas em desenvolvimento infantil e deverá trabalhar em conjunto na elaboração de um Plano Educativo Indivual (PEI) para a criança. Um PEI inclui objectivos específicos a nível académico, de comunicação, de aprendizagem, etc. A equipa deve avaliar e reavaliar regularmente a criança para determinar os seus progressos e se devem ser feitos ajustes ao PEI”, explica Carolina Benjamim Ferreira.


Faltam equipas especializadas de intervenção precoce


Segundo a psicóloga clínica Carolina Benjamim Ferreira “foram já dados passos importantes no que diz respeito à integração educativa destes indivíduos, com a criação das UNECAS (Unidades Educativas Especializadas) nas Escolas direccionadas às perturbações de desenvolvimento do espectro autista nas escolas direccionadas às PEA”. Contudo, a psicóloga refere que ainda existem falhas significativas quanto à integração de indivíduos adultos com autismo e síndrome de Asperger no mercado de trabalho, assim como estruturas de apoio institucional para os de baixo nível de funcionalidade “A intervenção precoce também carece de equipas especialmente vocacionadas para as peturbações de desenvolvimento do espectro autista. No nosso centro, necessitamos de reforçar a equipa de funcionários existentes, no sentido de a tornar multidisciplinar, com técnicos da área da Educação Especial, Terapia da Fala e Terapia Ocupacional, uma vez que neste momento apenas dispomos de uma psicóloga, uma ajudante de reabilitação e uma auxiliar de serviços gerais.


Esta é uma pretensão para curto prazo, uma vez que já foi feito o pedido às entidades governamentais competentes há cerca de dois anos” conclui Carolina Benjamim Ferreira.
PAULA CRISTINA GOUVEIA


15 de Abril de 2010

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